19/09/2025
Da abertura, marcada pela exibição de um longa pernambucano com parte da equipe cearense, ao encerramento, no qual um filme do Estado será exibido pela primeira vez aqui, a 35ª edição do Cine Ceará - Festival Ibero-americano de Cinema traz destaque para a produção nordestina.
De 20 a 26 de setembro, o principal evento de cinema do Estado exibirá gratuitamente um total de 42 filmes, entre longas e curtas, nas telas do Cineteatro São Luiz e do Cinema do Dragão.
A presença da produção nordestina se estende não apenas temporalmente, mas também por diferentes mostras. “Gravidade”, do pernambucano Leo Tabosa, abre o evento neste sábado (20) e compõe a competição ibero-americana.
Já “Morte e Vida Madalena”, de Guto Parente, marca a conclusão do festival no dia (26) e ganha exibição especial.
Antes, os quatro curtas do Ceará que estrearam em Cannes no projeto Directors’ Factory também terão sessão especial no domingo (21) e o pernambucano “O Agente Secreto”, candidato brasileiro ao Oscar que tem cearenses no elenco, será exibido na quarta (24).
Para completar, a competição nacional tem metade de curtas nordestinos na seleção e o festival evidencia ainda, em mostra dedicada à produção cearense, a descentralização do audiovisual do Estado.
“A gente está abrindo com um filme pernambucano que é meio cearense. O diretor é pernambucano, mas é uma produção da Bárbara (Cariry), com fotografia do Petrus (Cariry), tem muito do Ceará”, ressalta Margarita Hernandez, diretora de programação do festival.
Mais nomes cearenses de “Gravidade” incluem o roteirista e produtor Arthur Leite, as diretoras de produção Priscila Lima e Teta Maia, a figurinista Lana Benigno e o compositor João Victor Barroso, entre outros.
No elenco, há a presença das atrizes Hermila Guedes, Danny Barbosa e Marcélia Cartaxo, além de Clarisse Abujamra e Helena Ignez. A trama acompanha o encontro entre quatro mulheres às vésperas do fim do mundo.
Junto da exibição do longa, a abertura do 35º Cine Ceará também conta com homenagem à atriz Mariana Ximenes, que recebe o Troféu Eusélio Oliveira das mãos do cineasta Halder Gomes.
Filha de mãe cearense, a artista tem mais de 40 filmes no currículo e já trabalhou com o sobralense Zelito Viana no filme “Bela Noite Para Voar” (2008).
“Ela pediu para a produção do festival marcar conversas com diretores cearenses, porque ela tinha muito interesse em trabalhar com diretores daqui. Ela quer fazer essa ponte, o que é bem legal”, adianta Wolney Oliveira, diretor geral do festival.
O drama fará estreia mundial no Cine Ceará, um diferencial do evento. “A gente tem mantido o ineditismo nos longas. Acho importante, sinceramente, ter uma coisa pela primeira vez acontecendo em Fortaleza. Apresentar filmes inéditos chama muito as pessoas”, defende Margarita.
Além de “Gravidade”, a competição ibero-americana inclui o “Do Outro Lado do Pavilhão”, de Emília Silveira (Brasil); "Eco de Luz", de Misha Vallejo (Equador); "Ao oeste, em Zapata", de David Beltrán i Mari (Cuba/Espanha); "Esta Isla", de Lorraine Jones e Cristian Carretero (Porto Rico); e "Um cabo solto", de Daniel Hendler (Uruguai/Argentina/Espanha).
A diretora de programação partilha que o número de inscritos neste ano foi de 1639 filmes. Foram 329 longas de 15 países, incluindo o Brasil, e 1172 curtas de todos os estados.
“Acho que é o recorde de toda a história do festival, nunca a gente tinha recebido tanto curta. A Olhar do Ceará (dedicada a curtas e longas cearenses) também deu uma aumentada, foram 138 produções”, partilha.
“Me lembro do começo do festival, você tinha pouquíssimos vídeos e filmes (inscritos), até para fazer o evento era mais difícil. É uma diferença muito grande. Vejo como um momento muito bom do cinema cearense que essa vinda da Ceará Filmes vai dinamizar ainda mais”, avança Wolney, citando o projeto de implantação de empresa pública do audiovisual no Estado que deve ter sinal verde até o fim do ano.
Dois aspectos interligados são destacados pelos diretores do Cine Ceará: a presença massiva de produções concretizadas por meio de fomentos ao setor e a descentralização de filmes do Estado.
“Isso traduz a importância de todos os editais, de todo esse fomento à cultura, ao audiovisual. Quando começam os créditos, você vê Lei Paulo Gustavo, secretarias. Dá frutos. Chamou muita atenção ver a quantidade de filmes, sobretudo do Ceará, que conseguiram finalizar suas produções e que têm qualidade para participar”
“Outra coisa significativa é como tem aumentado a produção fora do que seria o ‘centro cinematográfico’. Muita coisa está sendo feita no Cariri, tem Sobral. São outros olhares, formas de fazer, equipes, caras”, segue Margarita.
Em uma avaliação de panorama, Wolney cita movimentos que comprovam esse desenvolvimento descentralizado do audiovisual.
“Acredito que vá aumentar ainda mais. Recentemente se criou o curso de cinema na Federal do Cariri, muitos filmes independentes produzidos no interior, como os do Josafá (Duarte), que é lá da ‘Hollywood cearense’. Uma coisa que vai impulsionar é a inauguração das salas de cinema em municípios do interior, um projeto antigo, que está para sair. Isso é muito bem-vindo”, ressalta.
O próprio Cine Ceará também tem projetos de difusão e formação pelo Estado. “O festival se centra naquela semana, naqueles filmes, mas é mais do que isso”, aponta Margarita.
No dia 4, por exemplo, Pindoretama recebe sessão ao ar livre da animação brasileira “Meu AmigãoZão - O Filme”, de Andrés Lieban, que será apresentada também no dia 23 na Aldeia Jenipapo-Kanindé, em Aquiraz.
“O festival está mostrando a força do cinema fora de Fortaleza, acontece Cine Ceará fora de Fortaleza. A gente quer cada vez mais poder levar o festival para o interior, espalhar”, reforça a diretora.
“Vejo (esse cenário) com muita alegria. Quando fui estudar cinema em Cuba em 1986, não tinha nada a não ser os cursos da Casa Amarela Eusélio Oliveira. Não tinha universidade de cinema. Hoje, tem dois cursos superiores de cinema, da Unifor e da UFC, o da Vila das Artes, os trabalhos do Cena 15 do Porto Iracema”, celebra Wolney.
O diretor geral define o festival como “uma oportunidade única”. “São sete dias dedicados ao cinema ibero-americano, tema Olhar do Ceará, é um grande evento que não cobra ingresso. Estamos num estado que tem o tripé formação-produção-difusão muito sólido, então é uma oportunidade que quem gosta de cinema não deve perder”, convida.
Com programação totalmente gratuita, o Cine Ceará tem acesso do público limitado pela capacidade máxima dos locais de realização, o Cineteatro São Luiz e as duas salas do Cinema do Dragão.
No palco principal do festival, o São Luiz, os ingressos podem ser adquiridos apenas de maneira on-line, na plataforma Sympla. Eles ficam disponíveis sempre no dia anterior à exibição, a partir das 14 horas. Cada pessoa pode retirar até dois ingressos por sessão.
No caso do Cinema do Dragão, que recebe a Mostra Olhar do Ceará, os ingressos ficam disponíveis para retirada na bilheteria uma hora antes do início de cada sessão. Também é possível retirar até dois por sessão.
Fonte: Diário do Nordeste